quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Auto do Rei Leal





O Auto do Rei Leal é obra de José Mapurunga. O texto é livre inspirado no King Lear de Shakespeare e nas tradições populares brasileiras. O autor compôs sua literatura toda em cordel, disposição em versos típica do nordeste brasileiro. A montagem se apropriou da linguagem do Maracatu cearense: rosto pintado de preto, roupas coloridas, cortejo, coroação do rei.

A peça começa com uma pequena apresentação e introduz logo o conflito: a partilha dos bens com o dono do patrimônio ainda em vida. Por ingenuidade ou por burrice, o Rei Leal decide dividir todo o seu cabedal entre as filhas e se entregar aos seus cuidados para ter uma vida descansada. Para medir a quantidade devida a cada uma, e metro usado é a bajulação. A entrega dos bens está na proporção direta da declaração do amor de forma mais loquaz. Goneril e Zuleide, interesseiras e egoístas, o fazem de forma magistral. Cordélia, a filha mais moça e mais sincera, recusa-se. É punida por isso; Leal a deserda. A partir dai, Leal é cuidado por sua filha Goneril. Mas, sem mais o que oferecer às filhas falaciosas, Leal começa sua degradação: é expulso de casa e torna-se mendigo. Na rua encontra figuras como o Catador de Lixo, Barão do Pau Maior e a Calunga (personalização da Morte) que, de forma ou de outra, o fazem enxergar as coisas que realmente importam em sua vida. Cordélia, já casada e dona de seu próprio castelo, o encontra na rua e o aceita de volta. Leal se arrepende e encontra o sentido de sua vida. Mas quando isso é percebido por ele, já é tarde de mais.

Como em todo Auto – este não é diferente – há um fundo moral-cristão. A moral da estória é que devemos perseguir e valorizar o que realmente nos importa. Nas palavras finais da Calunga: “Para vocês, ó meus amores/ Vou deixando uma mensagem/Abram os olhos para o mundo/Que essa vida é uma passagem/Esse aqui [Rei Leal] só aprendeu/Bem na hora da viajem/Façam isso bem depressa/Antes cedo do que tarde.”

Os atores trazem para a cena uma linguagem bem acessível e despojada. Circulam pelo palco cerca de 10 personagens masculinos e femininos, interpretados por quatro atores, todos homens. O cenário é de caixas de feira que transformam-se em tijolos que constroem as figuras do castelo e da igreja. O colorido está presente em todo a mise-en-scène. O Auto do Rei Leal é um autêntico espetáculo.



Barão do Pau Maior, Rei Leal e Zuleide


Rei Leal, Calunga e Cordélia

























Rei Leal e Catador de Lixo












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