segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Teatro não é casa da Mãe Joana



Denni Sales

 
O teatro precisa parar de ser a casa da mãe Joana, todos nós sabemos que a arte não tem vocação para santa e muito menos para madre superiora. Nada contra a mãe Joana, mas é que ela, em sua bondade e democracia, tem o terrível costume de querer agradar a todos, isso gera resultados desastrosos do ponto de vista artístico. 
 
Por falar em ponto de vista artístico, esse é o ponto de toda a estrutura artística, pois é um ponto variado de percepções múltiplas que não se limitam a um conceito ou uma forma apenas, mas se aglomeram numa multiplicidade e se integram como um só.
 
Pensando em tudo isso, cada vez mais fico com medo da mãe Joana, pois ela não está cuidando muito bem da casa. Em sua benevolência e bondade acaba fazendo medíocres acreditarem-se senhores de verdades absolutas e donos de experiências e conceitos irrefutáveis. Quando não, coloca os mesmos para ocuparem cargos nos quais se tornam perigosos, devido a sua limitação e à própria falta de humildade em admitir os próprios limites.

A mãe Joana não é uma boa educadora, todos os “artistas” acolhidos em sua casa, sofrem de um terrível mal que causa uma certa demência, pois não conseguem escutar nem mesmo uma critica. Ficam geralmente muito incomodados e frequentemente até transformam em inimigos quem ousa dar uma opinião que não seja hidratante para o ego.
 
Mas o que a mãe Joana tem produzido mesmo é um vasto histórico de mediocridade que visto de longe tornar-se tão cômico quanto trágico, pois suas conseqüências acabam por determinar de certa forma o destino de muitas coisas.

Definitivamente o teatro não é a casa da mãe Joana. Acho que é bastante claro que o teatro é sim e sempre será, terá de ser, para o seu próprio bem: a casa do Caralho.
 
E entenda-se o senhor Caralho como um ser de vasto conhecimento e sabedoria verdadeira, incapaz de nos enganar ou nos permitir usar o teatro como objeto de qualquer coisa; alguém que poderia nos ensinar a humildade, para estar no teatro, e inteligência, para não ser vazio e cheio de verdades furadas como são os criados pela mãe Joana.
 
Aliás, filhos criados pela mãe Joana nem compreenderiam o sentido literal desse texto, no mínimo defenderiam a mãe Joana, não por amor a ela, mas por medo do senhor Caralho e todo o seu refinado conhecimento capaz de desnudar a discordância presente nas entranhas dos discursos e balelas de quem muito se diz da profissão e por ela nada faz.

Por isso defendo que a o teatro em Manaus precisa ser a casa do Caralho, pois não há dúvida do bem que ele faria às fadas encantadas, aos concertos megalomaníacos, ao regionalismo chato e batido, à falta de reflexão e principalmente aos nossos pensamentos pequenos que apesar de pequenos, quando ficam de frente com o sentido de se fazer teatro, atrapalham nossa visão e nos estagnam de uma forma que nem percebemos.

Então pelo bem maior do teatro em Manaus, pelo seu refinamento, aprofundamento, crescimento e Inteligência, vamos pedir que a mãe Joana se retire desta casa imediatamente!


Denni Sales é ator, diretor, dramaturgo e performer.


Contato:dennisales@hotmail.com


2 comentários:

  1. Ultimamente, vejo os filhos caçula da Mãe Joana conversando um pouquinho, de vez em quando, com o Sr. Caralho, mas é tão estranho como a Mãe Joana vem buscá-los e proíbe-os (leia-se aliena) de falar com ele!

    Quer saber? Parei de falar - o que não significa que vou levar o meu cochonete pra casa da mãe Joana. Mas eu vou a partir de agora parar de dar murro em ponta de faca sozinho, e sim, me unir à uma nova geração (ao qual estou inserido desde que optei pelo FAZER teatral) que cansou de ver o que se vê, e escutar o que se escuta, pensando ser isso a máxima verdade. Parabéns pelo blog. o/

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  2. Cada vez estou convencido de algo: fui durante muito tempo uma Dona Joana hermafrodita, com caralho e vagina! Porém como tinha medo do castigo, não mandei ninguém tomar no cu. Aliás, mandei sim, mas me arrependi profundamente. Tenho aprendido muito com Denni Sales, e o agradeço por isso!

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